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Nova Teoria do Acaso

Estou revisando os dois últimos capítulos do meu livro Teoria do Acaso e me deparo com certos fatos ali narrados que ainda me emocionam demais. Nesse livro eu conto os detalhes de como conheci alguns dos meus amores, como foi que as circunstâncias me abraçaram, e como também por mim foram elas abraçadas. Como foi que meu Pai se apaixonou por minha Mãe. Como foi que Nietzsche conheceu Lou Salomé, como Dali se apaixonou por Gala, como foi que Sócrates encontrou Xantipa. Minha tese é que o acaso determina cada uma dessas coisas. Tudo que acontece na vida da gente é obra do acaso. Se Cristóvão Colombo fosse apenas um contador, não estaríamos aqui, agora, conversando. Cristóvão teve que ser corajoso para empreender aquela viagem em 1492. Se meu louco bisavô Luiz Marques não tivesse raptado Vitalina no início do século passado, eu não existiria. Aliás, nem meus irmãos nem minhas irmãs teriam nascido... Mas, o que é interessante, minha Mãe Iracy teria existido normalmente


7. Muitas mulheres marcam deliciosamente a minha vida. Todas são especiais; nove são musas. Mas uma delas se destaca... Uma mulher que jamais quebrou as lanças da minha ousadia, e nunca pensou em cortar-me as asas de pássaro livre. Uma mulher que me apóia com entusiasmo, incentiva os meus saltos profundos e me aplaude em todas as conquistas.

Ela compreende os meus gestos, mesmo quando parados no ar. Ela me aceita como sou, inteiramente. E me faz acreditar, cada vez mais, que o verdadeiro amor é a união gostosa de duas espontaneidades, a fusão poética de dois devaneios.

Essa mulher é minha Mãe. Às vezes a geografia nos separa um pouco, mas temos uma ponte entre nós dois chamada Amor. E eu sempre me lembro das canções de ninar que ela cantava para que eu não dormisse... Do Kyrie Eleison e Tantum Ergo a Dalva de Oliveira e Noel Rosa. E também me lembro do dia em que eu nasci.



8. Era um dia de duplas esperanças. Era uma noite de luar azul escandaloso. Era um sábado de aleluias, era hora de metáforas e loucuras. Era uma casinha de madeira e Primavera ao lado de uma bela roseira branca no finzinho de uma rua principal. Como toda mulher inocente, minha mãe estava grávida de amor: havia sido deflorada à beira de um poço por um Inspírito Santo alado e dançante. Era madrugada de novo e ela estava sozinha outra vez. Foi então que essa Mulher resolveu me dar a Luz - em todos os sentidos.

Era o começo de uma história de Amor.

(...)

Eu fico elucubrando, divagando, escrevendo, dançando nas teorias e nos amores. E isso se aplica também a você e à sua família. Todas as relações, todos os casamentos, todos os amores, todos os nascimentos, todos os ódios e desavenças  tudo aconteceu por acaso. Todas as separações, todas as mudanças, todos os projetos (inclusive os comerciais) aconteceram por acaso. É só você se perguntar seriamente sobre isso. É só pesquisar. É só recordar como tudo aconteceu...




Mas, ao escrever sobre, por exemplo, Suzana e Patrícia, acabo me lembrando da década de 1990, quando eu morava na Alameda Barros, em SP, e às vezes chegava em casa à noite e encontrava uma festa. Alguém me abria a porta e até me perguntava quem eu era... rs! Eu costumava deixar uma chave do apartamento na portaria, e autorização para que toda mulher — consideradas algumas premissas, mesmo que os porteiros nem a conhecessem — pudesse pegar a chave e subir. Quantas mulheres fossem. E que se sentissem elas totalmente à vontade. Que bebessem do meu vinho e comessem do meu pão. Algumas eram amigas, e outras, totalmente desconhecidas. As surpresas que eu tinha por causa disso sempre foram maravilhosas. Conto algumas dessas surpresas, dezenas, nesse livro acima citado. Era assim a minha vida. E nesses quase quinze anos que se passaram não mudou quase nada — exceto duas ou três relações meio fechadas que me levaram a diminuir muito a freqüência das festas. Mas voltarei logo mais a deixar minha chave na portaria de novo — com as mesmas recomendações. Para que tudo se repita outra vez, de modo ampliado, mais intenso, e mais gostoso.


Naquele mundo maravilhoso, quase mitológico, o "centro de gravidade" era Eu — e Eu saltava dentro de mim mesmo, para um outro Eu ainda mais profundo e mais central. Eu era um sol iluminando estrelas cadentes. Eu lhes dava luz e amor, em troca de mais luz e mais amor. Eu me tornava cada vez mais absoluto, e elas viravam estrelas ascendentes, bailarinas, quase sempre. Felizes aquelas que gravitavam em meu redor, diziam elas. Em verdade, aos pares nos tornávamos estrelas binárias — ainda que por vezes santíssimas trindades ocorressem. Tudo era fora do normal. À época, eu pensava que certas coisas que vivíamos eu só as contaria vinte anos depois da minha morte. Hoje eu já considero a possibilidade de contá-las vinte anos antes. Daqui uns quarenta, portanto.








Eu tenho coisas pra te contar. Descobertas que já fiz. Segredos que revelei — e outros que escondi. É por isso que eu insisto em semear um pouco de Sócrates a granel nas areias do teu cotidiano. Semear alguma coisa nova na clausura emocional que te protege. Quebrar as prateleiras corroídas dos teus paradigmas mais sólidos, e espicaçar o miolo seco dos teus queridos padrões inconsequentes.


Mas não se preocupe demais comigo, porque não trago nenhuma resposta pronta que se imponha de repente ao teu sossego inexplicável. Só te faço perguntas. Indiscretas, às vezes, mas sempre originais, malucas, ins-pirantes. O que eu quero mesmo é mexer na tua cabeça, por fora e por dentro. Quero te mostrar a importância do agora. Eu quero, respeitosamente, desrespeitar esses teus medos insensatos. Enfrentar teus mais amados preconceitos. Quero fazer um cafuné delicioso nos teus neurônios enrolados. E depois de tudo isso passar um pente fino nos caracóis da coisa pronta.


Ainda quero te ver livre, meu Amor.







Mas eu não nasci para satisfazer as expectativas de ninguém — nem mesmo as minhas, que aliás nem tenho. No fundo, eu só quero mesmo é provocar intelectualmente as pessoas criativas, como suponho você seja. Eu quero questionar tudo. Quero questionar os teus padrões, tuas verdades e medidas, teus olhares e desejos, teus anseios, despedidas. Esmagar tuas convicções, assim como esmago as próprias minhas. Mas não pense que eu quero muita coisa, não: eu só quero é fazer o sol nascer brilhante no meu peito todo dia, e abraçar a metade do infinito quando me deito na praia em noites de luar escandaloso. Quero escrever poesias, falar de amor e liberdade, saltar profundo — e gozar a vida. Quero balançar a cabeça de quem me lê, delicadamente, de dentro para fora. Esparramar minhas loucuras no coração dos meus amigos e dos meus amores. Repartir com todos a poesia do meu entusiasmo e dos meus delírios. Só isso.





Meu trabalho é escrever apenas, e contar histórias para mudar o mundo. Arriscar a Vida em teu nome e fazer loucuras por mim também. Dançar profundo à beira do abismo, e tecer a sorte como se aranha. Porque, felizmente, há dois amantes loucos morando em mim: um é poeta, e o outro, filósofo. O filósofo compreende tudo porque reflete muito por sobre o pouco que o outro pensa. E acaba vendo mais longe no espelho das coisas porque sobe numa escada chamada Razão. E isso é bom. Mas o poeta, esse não compreende nada — porque não precisa de coisa alguma. Nem pensa em pensar profundo: só dança com seus amores. Não vê mais longe, nem vê mais nada. Mas sua escada se chama Poesia. E isso é belo.







Eu respeito sempre os meus amores. Assim mesmo: no plural. Tenho muitos. Sempre os tive. Mas, quando eu digo "respeitar os meus amores", às vezes refiro-me às pessoas que eu amo, outras vezes às coisas que eu sinto. Portanto, respeitar os amores tanto pode significar respeitar as vontades (desejos, critérios, preconceitos) de pessoas que eu amo (e que suponho me amem), quanto seguir livremente as paixões (desejos, critérios, loucuras) que eu trago no meu próprio peito. Dito de outra forma, e preferencialmente: respeitar os meus amores é seguir meu coração.





Não dá para salvar a alma sem antes salvar o corpo. E o que mais excita o ser humano é a possibilidade aberta de uma nova vida. Foi por isso que o meu bisavô deixou que a rebeldia lhe subisse à flor da pele. Num certo fim de ano ele tomou aquelas decisões que só os corajosos conseguem tomar: montou o cavalo negro do risco absoluto — e partiu! Pois ele também já sabia que o único crime que não tem perdão é desperdiçar a vida. Abandonou tudo para não ter que abandonar a própria existência naqueles caminhos já percorridos. Trocou um milhão de verdades antigas por uma pequena mochila de sonhos. Jogou fora o velho baú de premissas usadas, quebrou as algemas — e caiu na Vida.


Não fosse por isso, eu não teria nem nascido — e não estaria aqui, agora, à beira do mar, tomando um belo copo de vinho vermelho e contando essas coisas pra você. Sou portanto bisneto da rebeldia. Sou bisneto da rebeldia, neto da emoção, filho da loucura, irmão do desejo, primo do prazer, amigo da liberdade, e amante de todos os meus amores. E existo, por incrível que pareça. No céu da minha boca não há fogos de artifício. Só estrelas!


Foi assim que começou a minha vida. É assim que começa o meu livro 







A primeira noite de um menino.




Quando a primeira paixão da minha vida começou a incendiar-me o peito, tornei-me um serzinho sensual e amoroso full-time. Transformei meu coração num sol inesgotável, e pensei que todas as meninas e mulheres do mundo se chamariam Marina.

Eu tinha sete anos — completíssimos — e às vezes morava com minha Vó Vitalina.

E foi nessa idade que entrei glorioso na fase fálica do meu crescimento espírito-libidinal, montado num belo cavalo de sensações brilhantes, inocentes e lúbricas. Ao mesmo tempo, comecei a estimular principalmente duas coisas em mim: meu intelecto e meu sexo. E quando descobri que eu tinha o supremo poder de dar-me orgasmos, vibrei, deliciosamente — nos dois principais sentidos da expressão. Por isso, ainda hoje eu creio num Deus que não é qualquer: é um Deus que sonha — e tem orgasmos.

Fico pensando.

E me lembro de Sonia Maria.
Sonia Maria Santíssima!
Minha segunda paixão adolescente...

Sônia tem treze anos, e é linda. Sensualíssima. Convidado por ela, vamos ao cinema. Sentamos lá na última fila. Quando as luzes se apagam, ela desliza suavemente sua mão esquerda por minha perna, e ficamos de mãos dadas, enternecidos. Meu coração dispara de alegria. Nem me lembro do filme, mas sei que, quando a sala se ilumina em certas cenas, eu vejo que a outra mão dela está entre as duas do Júnior, um amigo meu. A princípio, estranhei um pouco, mas a parte de Sônia que me tocava continuava comigo... E assim, por muitos filmes e muitas e muitas noites de amor inocente, eu aprendi a compartilhar a musa até hoje inesquecível. Eu tinha então doze anos — e isso mudou minha vida para sempre. Aprendi que ninguém é dono de ninguém. E o que é mais importante: ninguém é propriedade de ninguém.
(...) Parte deste texto só está nos meus livros.


Aqui havia algo sobre Bernadete Pimenta Magalhães. É tudo ficção, mas faz de conta que é verdade.


/// Por sugestão de Daniela e Alessandra, estou excluindo daqui parte do texto em que falo de Bernadete Magalhães. Ou seria Beatriz? Ou Beth? Certas coisas e certas pessoas a gente tem simplesmente que apagar. Dos livros já publicados (inclusive as edições do Solidão a Mil de 1998, 2003 e 2011) não as posso tirar, mas nas próximas edições farei uma limpeza! ///




Beatriz Pimenta Magalhães. É tudo ficção, mas faz de conta que é verdade. Beatriz foi meu primeiro amor sexual de fato, primeira transa efetiva. Sábado à noite. Na mão esquerda, um litro de Martini bianco, que comprei numa pastelaria do Parque D. Pedro, em São Paulo. Na direita, a mão esquerda do meu então amor mais fascinante. Houvéramos nos encontrado cerca de quinze dias antes, na Praça da República — e eu já trazia na mão duas rosas vermelhas, que seriam trocadas por Beatriz. Era a primeira vez que eu, dezessete anos, dava flores a alguém que amava. O poeta meio inseguro já começava a ter refinadas maneiras de amante.

Nos abraçamos muito. Os três: eu, ela — e a vida.

Depois de alguns dias gloriosos e muitos abraços fortes, demorados, ela me elogiou com seus lábios finos e vermelhos: — Que bom: você é diferente, Edson: me abraça, sinto teu sexo em minhas pernas, mas você não se esfrega em mim. Me abraça como se dançássemos, com suavidade. Que bom!

Beatriz era tântrica e eu nem sabia o que isso significava.
(E já comecei a gostar dessa coisa.)

Nesse dia da primeira vez, fui seduzido. Ela tomou a iniciativa, arrumou a casa de uma amiga e me convidou para irmos até lá. Bebemos dois ônibus, já era tarde da meia noite, o litro quase branco de Martini equilibrando meus braços de amor, cachorros latiam, havia luar em São Caetano. A lua como Diana, eu ainda não sabia. Não lembro do mês, mas o ano era não-sei-quanto. (Ou terá sido antes?) Assim que chegamos me contou que a amiga não estaria em casa. (Tremi). Ela sabia que eu era virgem, em cartas já me havia confessado — ao vivo também.

Aquelas brincadeiras com Marina e todas as outras, na minha infância e adolescência — eu nem conto. Talvez um dia, vinte anos depois da minha morte, quem sabe... Também não levo em consideração todas as transas adolescentes porque porque lhes faltava um toque de sublime. Eram mais exercícios sexuais do que paixões enlouquecidas.

Então, explorando nossos mútuos segredos, tomamos o restinho do Martini em dois copos de vidro, eu e Beatriz. Para o poeta, isso equivale a um Veuve Cliquot em duas taças de Crystal. Fizemos amor como se transássemos, e não me lembro como. Na teoria, eu era um grande amante, mas não devia ter muita prática. Há nuvens na memória quanto a isso. Dormimos juntos, na mesma cama, de uma forma que Kundera jamais recomendaria.

Dia seguinte, domingo de Páscoa, quando acordei, ainda de bruços, olhei para o azul do lençol limpo, perfumado. (Por isso a fixação em lençóis azuis). Certifiquei-me de que era eu mesmo, e me virei. O teto — o próprio teto do mundo, pintado por Michelangelo, Episódios da Criação dançando no meu cérebro inquieto. Na parede à minha frente o Sagrado Coração — e Jesus, cabeça inclinada, a palma das mãos para cima, me olhava, sorrindo. (Foi a primeira vez que vi Jesus como um cara legal). À minha direita, a janela grande, sem cortinas, por onde o claro e o óbvio me enchiam de luz. À esquerda, a porta aberta e a música dos Beatles (qual?) entrando por ela. — Nenhuma pressa.

Me senti espreguiçando na própria Capela Sistina...

Que diferença da pensão onde eu morava...


(Fora morar nessa pensão porque queria vencer sozinho na vida, sem ajuda do meu pai. E venci — mas esta é outra história!)

Uma toalha felpuda, branca, ao meu lado, na cama. Levanto-me, enrolo-me, saio, quase caio. A mesa estava posta: era feijoada, feita-me por meu amor para o nosso amor.
E para o seu amor:
— Dormiu bem? Quer um banho? — me beijou na boca.
Era a primeira vez que alguém, em toda minha santa vida, me fazia essa pergunta. "Se dormi bem?" — Ora, dormi como deveria ter dormido desde criança! Foi a primeira vez que sonhei que estava sonhando acordado ao me levantar. Beatriz ainda nua, e eu, perplexo. Ela, desenvolta, eu — meio enrolado. Havia uma garrafa de cerveja Brahma sobre a toalha xadrez, um clima escandaloso de paixão e de mistério. Me beijou de novo com seus lábios quentes, enquanto me apertava o sexo desesperadamente duro:
— Você abre a cerveja?
A chave parecia de prata, e brilhava naquela quase tarde de um subúrbio ensolarado e esquecido, onde ganhei para sempre a minha eterna virgindade. Servi delicado o ouro líquido nos dois copos, e ainda em pé lhe ofereci o brinde:
— À vida!
— À vida, claro. E a nós, antes de tudo — disse ela, sorrindo, enquanto arrancava-me a toalha, deixando-me nu.
Sentamos, um quase no colo do outro. Era a primeira vez que alguém me fazia almoço exclusivo. Senti-me rei, príncipe excitado, um amado de verdade, um Jesus, um Buda, um Bhagwan. Do que falamos não me lembro. Só pode ter sido sobre amor e liberdade. Era o meu primeiro banquete, um banquete em que meu sexo ficou duro do começo ao fim.

Inesquecivelmente duro. Uma rocha. Um obelisco.

Como sobremesa, pediu-me que virasse um pouco a cadeira, sentou-se aos meus pés, separou-me os joelhos um do outro, com extrema delicadeza, arrancou meu cacete vivo para fora de si mesmo, pediu-me que fechasse os olhos — e chupou-me de uma forma que eu jamais supunha ser possível. Engoliu meus jatos de amor, limpou-me com o mesmo guardanapo manchado de caldo de feijão, pegou minha mão e conduziu-me voando para o quarto.
Transamos novamente — e de novo, novamente.
Nossos líquidos inundaram os lençóis.
E isso me deixou maravilhado.


Não me lembro de todos os detalhes.
Confesso agora, naquela época eu não sabia bem o que fazer com uma mulher. Na biblioteca do Partido Comunista não havia o Kama Sutra. O orgasmo feminino, portanto, me era uma incógnita.






Não me lembro de todos os detalhes.
Nunca gostei muito de falar "fazer amor".
Prefiro transar.
Depois te explico por quê.

E voltei a São Paulo, lendo o livro de John Steinbeck que ela me deu, sacolejando no ônibus madrugante todas aquelas gostosuras despertadas que comecei a perceber havia em mim. Entreguei-em a um Deus Desconhecido.

Naquele dia a realidade começou a ficar muito melhor do que já tinha sido.

E nunca mais parou de ficar!


(...)
Ela sempre me dizia algo como:
— Fique pouco.
“Não me preencha em demasia. Serei apenas um dos teus amores. Nunca brigaremos, porque não te darei razões — nem permitirei que me sejam dadas por você. Antes de nos cansarmos um do outro, aumentaremos a distância entre nós dois”.

Agora que já era um poeta, andaria com as próprias pernas.
E amaria do meu próprio jeito.

Mas Bernadete sumia muito de vez em quando.
— Te amo muito, mas preciso te perder — dizia, segura de si. Ela já sabia que o excesso de presença mata o amor. E como diz minha mãe: depois de comermos juntos meio quilo de sal, a vida a dois já não será mais a mesma...
— Quero ser tua amante — Bernadete me pedia. — Namore outra, enquanto isso. Procure uma menina mais nova que você.

Santo conselho!

Foi então que conheci Célia, oito horas sentados num banquinho da praça. Nunca toquei nos seios dela, nunca lhe pus as mãos no clitóris; nunca transamos. Célia era tão pura, tão inteligente, tão lúcida, que me apaixonei. Além de tudo, ela era comunista. Então, por uns tempos — um ano talvez — tive, simultaneamente, uma namorada-namorada, e uma namorada-amante.

E eu amava as duas com a mesma intensidade. Com Bernadete, o sátiro lúbrico saltitava e caía de boca no seu sexo, mas com Célia era o intelectual comunista: até os beijos que nos dávamos na boca eram manifestações políticas de apreço pessoal. Ela era intocável, puríssima. Acima da xoxotinha dela não havia um Monte de Vênus — havia uma Sierra Maestra.
(Isto mostra o quanto aquele comunista era um tolo...)

E porque nessa época consegui amar duas mulheres ao mesmo tempo — e vi que isso era bom — acabei concluindo que poderia amar duas pelo resto da minha vida.
— Ou mais!

O que me complicou, mesmo, não foi o fato de ser comunista, foi ter querido salvar a classe operária — uma classe inculta, sem graça, pobre, e de extremo mau gosto. Meu grande erro foi ter querido, por anos e anos a fio, salvar uma classe que não tem classe, não tem finesse. Uma classe que não tem salvação, em nenhum lugar do mundo. E que, se um dia se salvar — no seguinte já morrerá soterrada de novo na sua própria mediocridade. Mas nunca abandonei o ideal socialista...

Então Paritosh me pega pelo braço, desvia o assunto:
— Irresponsável, Mahatma, é quem não realiza os próprios sonhos.
Concordo.

E fico sempre pensando no que me disse Bernadete aquele dia:
“Edson, procure uma menina mais nova que você...”
(Até hoje sigo à risca esse conselho!)

— Irresponsável, Swami, irresponsável é aquele que não se aventura, não se joga no escuro profundo da Vida. Irresponsável é aquele que só segue os caminhos já trilhados, só visita os lugares que existem nos mapas. Irresponsável é aquele que segue apenas o rebanho. Não corre riscos, não aspira ser mais, não deseja, não vibra, e pouco a pouco vai deixando até de sonhar. Esse é o verdadeiro irresponsável: em vez de voar, chafurda no pútrido lodo do medo...

(Paritosh continua falando, falando, falando.)


Mas ontem,






Eu tive a sorte de conhecer Reich antes de conhecer Freud.
E a sorte, maior ainda, de conhecer Marina quando eu tinha sete anos de idade.
Um pouco depois, a impressionante sorte de conhecer Sônia aos doze.
E, desde então, muitas outras sortes.
Muitas...


SM-11103 # TA12084.


O texto acima está no meu livro Solidão a Mil - página 402.

Maiores detalhes, especialmente as coisas maravilhosas que eu e Marina fazíamos, estão no meu livro Teoria do Acaso, páginas 084 e seguintes. Onde também escrevo a respeito do que Freud dizia sobre a sexualidade infantil.




O Sol nasceu para todos...

Hoje eu estou na Casa Azul. Tomando Wyborowa com Ferneti e licor de Jambú. E pensando em fazer daqui a pouco um Spaghetti. Vendo o filme Pergunte ao Pó, baseado no belíssimo livro de John Fante

De manhã eu fiz algumas fotos do quintal. 


O mato cresceu na minha ausência. Click AQUI para ver como era o jardim antes da minha viagem. Fiquei fora uns tempos porque fui ver a Lunna, minha irmãzinha querida a quem deixarei uns quinze centavos da minha herança. E todos os meus carros conversíveis.


Click AQUI para ver mais fotos de hoje do jardim maravilhoso e da horta abandonada.


Porque ontem, ontem, a quase seiscentos quilômetros daqui, eu assisti ao nascer do Sol azul no Guarujá. Fui lá fora e sentei-me na primeira fila. Contei quarenta e cinco coqueiros à beira do mar e ouvi dois bem-te-vis e uma sabiá, cantando como se fossem os autores da trilha sonora de um espetáculo divino que nunca mais verei de novo. Amanhã verei um outro — diferente, certamente... As ondas do mar onde esta manhã molhei meus pés nunca mais serão as mesmas.

A aurora nunca se repete.


Foi nesta paisagem que eu escrevi o texto de hoje.
Como se pode notar, eu não moro no Litoral.


Eu moro no Clitoral.


Hoje é quinta-feira. Hoje eu não quero muita coisa. Por isso vou ficar ali na praia, na Enseada, conversando com Netuno, tomando água de coco, olhando sereias, catando conchinhas e sentindo os lábios de Afrodite lamberem-me os pés... Hoje eu não quero muita coisa. Hoje é quinta-feira. Hoje eu só quero abraçar a metade do infinito...


A metade mais gostosa do Infinito.




QUALQUER ALTERNATIVA A SER FELIZ É UMA BOBAGEM


Eu amo o Amor e a Liberdade do próprio Amor. Não encarcero meu Amor no coração. Ao contrário de Vinícius, não enclausuro meus amores no meu peito. Há muito tempo que abri meu coração inteiramente, para que entrem nele os meus amores de repente. Entrem e saiam quando queiram, diferentes. Eu só amo amores livres — indescentes.






SÓ QUEM ACORDA PERCEBE QUE TUDO NÃO PASSA DE UM SONHO


São duas as moedas que compram a Liberdade: chamam-se Desapego e Coragem. E não dá para se ter uma sem a outra. Acontece que o verdadeiro desapego vai além das coisas materiais. Só ficamos realmente livres quando nos desapegamos até das coisas espirituais. Principalmente das coisas espirituais! Não basta desapegar-se do vinho e do Camaro vermelho: é preciso desapegar-se de Zeus. De Zeus, de Apolo, e de Vênus. É preciso desapegar-se do pão e das flores. Das estrelas — e também dos amores...



Sem desapego, impossível ser livre. E sem liberdade, impossível ser feliz.



A felicidade é uma flor delicada que a gente pendura nos galhos do Agora. Desde que bem pendurada, jamais cairá. Vai durar para sempre. Nunca secará. A felicidade é um estado de espírito — e é um estado tão profundo, que, uma vez atingido, viverá conosco para sempre. A felicidade, depois que a conhecemos de verdade, nunca mais a perdemos. É como uma iluminação budista ou zen. Talvez sejam até a mesma coisa.

Mas não imaginem que eu esteja negando a gostosura que é ter um Camaro preto ou um cavalo lindo com sela de prata. A gostosura que é comer um pão sovado ou ganhar um buquê de rosas champagne. A gostosura que é ter orgasmos. Desapego não significa privação nem desprezo. É amor puro pela coisa em si.














Sou cigano, mas quando leio as tuas mãos não te quero ver a sorte: eu te quero ver amor.


O primeiro clitóris que eu toquei foi o da minha Mãe quando nasci. Ele brilhava só por mim, como a própria luz da virgindade. Era um farol no alto da montanha, era um sino na catedral de amor por onde entrei neste mundo encantador. Meu primeiro orgasmo já foi cósmico. Eram sete e vinte da manhã e eu vibrei cento e oitenta vezes sem parar. Aquilo não era um parto natural, era uma partitura. Minha mãe não gemia, cantava — e eu não era só um bebê normal que nascia de um corpo humano, mas uma sinfonia em sol maior que floresceu a partir de uma semente divina, colorida, entusiasmada. Era um sábado de aleluias, e eu amei chegar como cheguei. Naquele momento, ao ouvir as mil badaladas, eu já senti que o meu destino era viver. E eu vivo.


NÃO TENHA SEDE. TORNE-SE ÁGUA.


Quando digo que toda viagem tem retorno, parece que não sou bem compreendido. Aliás, nem é mesmo para ser: eu produzo metáforas — e quem produz metáforas não busca compreensão. Aquele outro que viajava com pássaros do céu e cheirava delírios do campo também não era muito bem compreendido... Porque o retorno a que me refiro não é apenas geográfico: é o retorno em termos de investimento, mesmo. É o lucro, o ganho, a vantagem — a experiência que uma viagem nos traz, mesmo que não haja o retorno físico para o lugar de onde se partiu. Até porque, nessa perspectiva, não há retorno efetivo jamais. Somos outros quando voltamos. Uma viagem nos transforma; às vezes para sempre — e de modo irreversível. Quem já fez ou conhece a história do Caminho de Santiago sabe disso. Quem já foi ao Monte das Oliveiras ou ao Pico do Jaraguá sabe disso. Quem já veio à Bahia em busca de aventuras e surpresas, sabe disso. Quem já saltou de pára-quedas ou desceu correnteza ou subiu as cachoeiras de São Francisco, também. Quem corre riscos com certa frequência, quem ama a liberdade absoluta — quem ama a Vida absoluta — sabe do que estou falando. Os destemidos e os loucos inteligentes sabem disso. Até Sêneca dizia que a sorte favorece os destemidos.


TODA VIAGEM TEM RETORNO




Click acima para ler a história.


Não devemos ficar muito impressionados com uma hipótese, só porque ela é nossa. Toda hipótese não passa de um pequeno passo no caminho do verdadeiro conhecimento. Temos que perguntar, sempre, por que uma determinada ideia nos agrada tanto. Temos obrigação intelectual de compará-la, imparcialmente, com as alternativas. É fundamental verificarmos se é possível encontrar razões que a invalidem. Se não fizermos isso, outros o farão — e nós seremos ultrapassados, vergonhosamente. O que nos deve interessar, antes de tudo, é a verdade, e não o nosso apego a certas conclusões que adoramos.


O PRINCIPAL INGREDIENTE DESSE DOCE DELEITE CHAMADO AMOR É A BREVIDADE



Mais de oito da noite, uma cidade hospitaleira, mas num país estranho, e eu não sabia sequer onde dormir. Parecendo Zorba o Grego. Com apenas cinquenta dólares no bolso, um cartão quebrado e falando línguas que aqui não entendem. Essa assombrosa e radical instabilidade é fascinante — acreditem. Às vezes me canso um pouco dela, mas mesmo assim quero continuar com ela, porque sei que é disso que eu preciso para viver com emoção. E se algum dia eu mudar, meus amores, façam-me voltar a esse tipo de vida, façam com que eu me lembre do quanto isso tudo é muito bom. A normalidade é uma doença. Nunca mais serei normal. Tenho é que radicalizar ainda mais, com veemência, nesse caminho de perdição e gostosura. Sou movido a pecado, transgressões e alegria.


QUEM VIAJA SEM DESTINO NUNCA SE PERDE





Quando você puder ajudar uma criança a escolher a futura profissão, diga-lhe que ela poderá, entre outras coisas, ser um arquiteto ou contador. Ajude-a a decidir-se. Diga-lhe que o arquiteto vai criar o Guggenheim Bilbao, a Opera de Sydney, ou um novo Cristo Redentor. Mas o contador não vai além de um balancete.



Mas é preciso que eu hoje faça uma ressalva. Tenho dito que você deveria libertar-se das amarras, saltar profundo e viver a vida. Acontece que isso é uma proposta retórica. Não estou pregando que você deva realmente abandonar tudo e sair correndo agora mesmo. Simplesmente porque não há profundidade suficiente para todos saltarem, ao mesmo tempo. Aliás, se todos saltassem perderíamos as referências. Se todos saltassem — saltar passaria a ser uma coisa banal, comum. Se todos largassem tudo, a vida viraria uma bagunça... Seria o caos. E se tem uma coisa pior do que a ordem absoluta, é a desordem absoluta. Portanto, é preciso que quase todos permaneçam exatamente como estão, atolados nessa desgraçada rotina quotidiana — e cuidando das engrenagens do mundo — para que apenas uns poucos, pouquíssimos, saltem profundos. Saltar profundo não é pra todo mundo.

A VIDA É UMA FLORESTA

Eu abro uma picada na floresta e me dou bem. Eu adoro abrir picadas na floresta. Esta é a minha função preferida. Mas você tem que abrir a sua própria: experiências não se transmitem. Não queira seguir esta que eu abri, nem siga, muito menos, aquela que os normais dizem ser a única. Há milhares — e cada um tem que abrir a sua. Eu posso apenas te emprestar a foice. E te ajudar a afiá-la de vez em quando.
O resto é com você




Sou minha própria liberdade e tudo aquilo que permite. Sou a luz do meu caminho, sou meu passo, meu galope, meu próprio cavalo, meu cansaço, meu repouso, minha luta e minha dança. Meu sono e meu despertar, minha garganta e minha voz. Sou as palavras que profiro e até mesmo as que eu não digo. Sou a paz, harmonia que se reparte, como tudo, sou aquele que fica e o que parte, o que supõe — e o que dispõe. O criador e a criatura. O coração do cisne negro, as asas do pássaro no voo, o vento e a vela.

E o sopro.

E suponho que você daqui saia diferente do que era quando entrou. Eu quero te provocar, intelectualmente. Quero que você suba ao palco da Vida agora mesmo. Por isso é que nas cadeiras poéticas do meu teatro eu coloco um monte de pregos instigantes e palavras que te levam a pensar. Eu te provoco com metáforas de açúcar. Eu te cutuco com verbos e delícias insistentes. Eu te cutuco com flores e estrelas — todo dia — porque quero que você pense de modo diferente. Quero que você mude. Quero que você viva. Quero que você dance no arco-íris de um violino que se chama Liberdade.







É UM DESPERDÍCIO IMPERDOÁVEL TER UM GRANDE CORAÇÃO — E DEIXAR NELE UM ÚNICO AMOR.


Eu me apaixonei pelas duas — ao mesmo tempo. Mas, enquanto Patrícia desejava "o melhor" para mim, Suzana só queria que eu fosse um poeta louco, exagerado. Eu, de minha parte, que nunca tive mesmo a pretensão de ser indispensável, só queria fluir. Fluir e dançar. Fluir e voar, enquanto ainda houvesse algum vento de liberdade soprando em mim. Enquanto ainda tivesse meia dúzia de asas boas. Patrícia, por uns tempos, foi o meu maior amor, em quase todos os sentidos. Suzana, também. Por isso, dediquei a elas tudo o que fiz de melhor naquela fase da minha vida.

Eu as amava, mesmo! Era sincero quando lhes dizia, a cada uma, "eu te amo". E também sincero nos momentos em que só pude amá-las em silêncio profundo porque estava, respeitosamente, com outras. Corria o ano de 1999. O século 20 estava virando de ponta-cabeça. E a Vida, ali — me convidando como fosse Tentação. Como todo mundo que busca crescimento espiritual, eu tenho dois lados: o sério e o gostoso. Patrícia, é claro, queria o primeiro. Suzana — o gostoso. Patrícia queria, primeiro, o eterno, o estável, o mais tarde. E Suzana queria, primeiro, o segundo, o momento — o agora. Patrícia queria o marido. Suzana, o poeta. Patrícia, como já disse, era sensualíssima, mas Suzana tinha a inocência mágica dos 17. Enquanto Patrícia adorava o burguês que morava no meu corpo, e me cobria de roupas, perfumes e presentes, Suzana só me descobria. Adorava o meu lado maluco, segurava minhas mãos como se me pegasse todo, e dizia, olho no olho, sorrindo, encantada: Viva a vida, Edson — nos três sentidos...

Patrícia queria certezas; Suzana me jogava no abismo. Patrícia significava segurança, estabilidade. Mas Suzana quer dizer Aventura. Durou quase dois anos esse nosso delicioso triângulo de vertigens. E foi só quando chegamos ao pico é que tive de optar com veemência. Porque, de Patrícia, eu tinha que me salvar correndo, para enfim poder viver. E de Suzana, eu só queria ter belíssimas lembranças... Além disso, ambas também precisavam salvar-se de mim.

Então, saltei.
De cabeça, no coração da Vida.










Aprendi a voar vários tipos de voos, para toda ocasião. Depois que tomei o verdadeiro gosto pela coisa, ficou muito mais difícil rastejar. Pouso às vezes, é claro — e tenho o poder de pousar onde quero, desde que o lugar, ele mesmo, não se esquive. A hora do pouso e quanto vai durar — sou eu quem decide. Aliás, se fosse diferente, nada mais faria sentido na vida. Nunca perderei a capacidade de levantar voo, na direção que quiser, e pelo tempo que pretender. Sou eu que determino as condições do meu voo. Não abro mão dessa prerrogativa. Meu contrato é com o vento. Informal.



Os saudáveis enlouquecem. Os outros ficam por aí, parecendo normais.




Este eu que ora sou,
hoje,
num enorme,
num desesperado esforço de imaginação,
movido por poéticas circunstâncias,
pode até jurar-te
amor eterno.

Mas,
como esperar
— como exigir —
que o outro eu que amanhã certamente serei
cumpra
eternamente
o que te promete
este eu que agora sou?





O trem da vida ainda vai passar por muitas estações. Não demore muito em nenhuma delas.


Sabe, eu acho que Deus abençoa muito mais o meu amor que a minha fé. Pois continuo transformando água em vinho branco, todo dia. Minha festa não acaba nunca. Sou um cisne que não morre.

Para mim, todo momento é uma oportunidade — de criar, de sonhar, de inventar alguma coisa. De ter uma ideia, de dar um abraço, ou de fazer amor. De tomar um vinho, ou de tomar um sol. Para mim, toda ocasião é uma chance única de viver a vida. Toda ocasião é uma festa. Desperdiçá-la seria um pecado. Aliás, como dizia meu bisavô, o único crime que não tem perdão é desperdiçar a vida.

Mas eu me equilibro nesse ofício de ser muitos, de andar numa corda, saltar numa linha e correr pelos versos de mim. Eu me equilibro nesse instante em que o eterno se desfaz. Nesse inexato momento em que o poeta que sou agora dança. Pois o meu destino é viver na arena, dançando entre os leões famintos. É um perigo, eu sei. Porém, nos intervalos das lutas, sorrindo, tomo sempre vinho rouge no gargalo colorido das garrafas de cristal. Talvez um dia eu acabe até morrendo na arena, quem sabe. Acontece que, antes de "morrer" na arena, eu VIVO na arena — e isso faz toda a diferença. Prefiro ser um gladiador ensangüentado a ser um boi feliz. Meu coração precisa de sangue, não de capim.


PORTANTO, OLHE PARA OS LADOS

Agora mesmo, onde você estiver, olhe para os lados. Observe o ambiente em seus mínimos detalhes. Apure a sensibilidade, ajuste a consciência, abra seu coração, respire fundo, olhe para os lados outra vez, e responda-me, sinceramente: — As pessoas com as quais você hoje convive são amorosas, compreensivas, inteligentes, excitantes, audaciosas, livres, saudáveis, brilhantes, honestas, sensíveis, delicadas, independentes, e cheias de entusiasmo pela vida?
— São?!
Porque, se assim não forem, responda-me: O que é que você continua fazendo aí?



MUDE, MAS COMECE DEVAGAR, PORQUE A DIREÇÃO É MAIS IMPORTANTE QUE A VELOCIDADE.


Tem gente que pensa que essa minha frase é de Clarice Lispector. Chegam a pintá-la em paredes. De minha parte, tudo bem. Fico até lisonjeado em escrever um poema de relativo sucesso que pode ser atribuído à maior escritora do Brasil. Aliás, cada um a seu modo, somos existencialistas, eu e Clarice. Falamos do Nada que contém tudo, e do vazio que nos preenche. Só não compreendo como é que seu filho, Paulo Gurgel Valente, teve a coragem de vender o MEU poema para a Fiat fazer o comercial de TV. E esse Sr. ainda se recusa a tocar publicamente no assunto. Terei de levá-lo, de novo, à barra dos Tribunais. /// Click na foto à esquerda e veja detalhes do crime.


TODA MINHA LUTA É UMA DANÇA EM DEFESA DA VIDA

Quando a questão é a defesa da vida, eu sou radical: Não abro mão daquilo que me é fundamental: o corpo, a alma, a liberdade, o amor. Por isso, eliminei da minha vida, radicalmente, tudo que maltrata, tudo que amedronta, censura, inibe, separa, impede, cerceia, corta, machuca, sufoca. Eliminei da minha vida tudo que é ciumento, possessivo, autoritário, mesquinho, rasteiro. Exatamente por isso é que minha Vida flui — deliciosa.

A propósito, eu acho interessante que você faça uma faxina nas tuas relações.



Eu defendo a liberdade absoluta — mas também a relativa. Prefiro a liberdade inteira e toda, mas se vier em pedacinhos, também os amo, abraço, beijo, como, acaricio. Não desperdiço nem um tiquinho...



Veja AQUI meu livro de aforismos






PONTOS DE VISTA

Quero antes te fazer umas três ou quatro perguntas, cujas respostas podem me dizer quem você é: Especialmente em questões subjetivas — tais como amor e religião — quando você não concorda com determinadas concepções, também considera que a razão pode estar do outro lado? Em certas discussões você tem abertura intelectual suficiente para eventualmente considerar que o ponto de vista contrário ao teu pode estar até mais próximo da verdade? Você já não defendeu valores, ideias e proposições que depois envelheceram, desesperadamente? Você já não teve tantas certezas absolutas que mais tarde foram fulminadas pelo tempo, pela experiência e pelo estudo? Sobre certos assuntos, você já não mudou de ideia muitas e muitas vezes? Será que agora nunca mais vai mudar? Será que você já chegou a todas as conclusões possíveis?

É. Quando você me conhecer um pouco mais verá que sou mesmo um fazedor de perguntas... Eu gosto de questionar, principalmente as verdades estabelecidas.



Delírios, sonhos, utopias... Quem ama a Liberdade tem direito a tudo isso!


Eu devo a minha vida à Ciência e não à Fé. Se algum dia eu ficar doente, procurarei um médico, não um curandeiro. Daqui a pouco eu volto aqui para continuar este assunto.


SEM FILOSOFIA NÃO SE FAZ CIÊNCIA

Tudo que existe — existe duas vezes: primeiro, na cabeça do criador. Toda mudança tem que antes ser sonhada. A realidade só se transforma de verdade, na prática, depois que transformou-se em teoria. Primeiro no cérebro — depois, no mundo. Sem sonho, sem loucura inteligente, nada se produz. Nada de concreto se produz. Nem sorvete, nem avião, computador, arranha-céu. Os inventores são todos visionários. Einstein, Jesus Cristo, Picasso, Galileu e Niemeyer: um bando de malucos. Se dependesse dos normais, ainda andaríamos de carroça. Talvez nem de carroça, pois a roda foi criada por um louco. Sem fantasia e liberdade não se encanta o cotidiano. A imaginação descontrolada é que dá cor e vida ao mundo. Por isso é que a Loucura é necessária, desejada — e tão temida.


SEM FILOSOFIA NÃO SE FAZ AMOR




Será que agora você nunca mais vai mudar ?

Eu supero uma norma sufocante, ultrapasso com amor e alegria uma pequena lei moral, salto por sobre um preconceito medieval que não é meu, e cometo alguns pecadinhos inocentes, deliciosos e profundos. Só por isso, eles, os formuladores de regras absurdas, já me apontam o dedo e ameaçam me punir. Acontece que eles — os juízes da moral conservadora — rompem todo dia com a Razão da própria Vida, e com toda a Lógica do mundo, e nem se dão conta dessa enorme barbaridade. Esses infelizes violam todo dia as Leis da Natureza, e acham isso absolutamente normal...




Click acima e leia o texto.





Quando eu digo que toda viagem tem retorno, parece que não sou bem compreendido. Aliás, nem é mesmo para ser: eu produzo metáforas — e quem produz metáforas não busca compreensão. Aquele outro que viajava com pássaros do céu e cheirava delírios do campo também não era muito bem compreendido... Porque o retorno a que me refiro não é apenas geográfico: é o retorno em termos de investimento, mesmo. É o lucro, o ganho, a vantagem — a experiência que uma viagem nos traz, mesmo que não haja o retorno físico para o lugar de onde se partiu. Até porque, nessa perspectiva, não há retorno efetivo jamais. Somos outros quando voltamos. Uma viagem nos transforma; às vezes para sempre — e de modo irreversível. Quem já fez ou conhece a história do Caminho de Santiago sabe disso. Quem já foi ao Monte das Oliveiras ou ao Pico do Jaraguá sabe disso. Quem já veio à Bahia em busca de aventuras e surpresas, sabe disso. Quem já saltou de pára-quedas ou desceu correnteza ou subiu as cachoeiras de São Francisco, também. Quem corre riscos com certa frequência, quem ama a liberdade absoluta — quem ama a Vida absoluta — sabe do que estou falando. Os destemidos e os loucos inteligentes sabem disso. Até Sêneca dizia que a sorte favorece os destemidos.






Quero te fazer umas perguntas, cujas respostas podem me dizer quem você é:



Especialmente em questões subjetivas — tais como amor e liberdade, família e religião, psicologia e direito, casamento e política, dinheiro e negócios — quando você NÃO CONCORDA com determinadas concepções alheias, também considera que a razão, no fundo,  pode estar com o outro?


Você já não teve tantas e tantas certezas absolutas que mais tarde foram fulminadas pelo tempo, pela experiência — e, principalmente, pelo estudo?


Sobre certos assuntos, você já não mudou de ideia muitas e muitas vezes?


E será que agora você nunca mais vai mudar?


Será que você, neste exato momento da tua vida, já chegou a todas as conclusões possíveis?




O poema Mude no comercial da Fiat.






Sônia tem treze anos, e é linda. Sensualíssima. Convidado por ela, vamos ao cinema. Sentamos lá na última fila. Quando as luzes se apagam, ela desliza suavemente sua mão esquerda por minha perna, e ficamos de mãos dadas, enternecidos. Meu coração dispara de alegria. Nem me lembro do filme, mas sei que tinha John Wayne. Quando a sala se ilumina em certas cenas, eu vejo que a outra mão dela está entre as duas do Júnior, um amigo meu. A princípio, estranhei um pouco, mas a parte de Sônia que me tocava continuava comigo...

E assim, por muitos filmes e muitas e muitas noites de claro amor inocente, eu aprendi a compartilhar a musa até hoje inesquecível. Eu tinha então doze anos — e isso mudou minha vida para sempre. Aprendi que ninguém é dono de ninguém. E o que é mais importante: ninguém é propriedade de ninguém.








— Irresponsável, Swami, irresponsável é aquele que não se aventura, não se joga no escuro profundo da Vida. Irresponsável é aquele que só segue os caminhos já trilhados, só visita os lugares que existem nos mapas. Irresponsável é aquele que segue apenas o rebanho. Não corre riscos, não aspira ser mais, não deseja, não vibra, e pouco a pouco vai deixando até de sonhar. Esse é o verdadeiro irresponsável: em vez de voar, chafurda no pútrido lodo do medo e da covardia... 





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