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17.2.10

meus mamãos não me ouviram



Nenhum dos meus mamãos me compreende. Primogênito, solteiro e sem filhos, amante do vinho, da dança e da música — além de poeta libertário cheio de amores — pareço-lhes um louco. Aliás, a partir do momento em que disserem que me compreendem, estarão eles assumindo, implicitamente, que se foderam. E essa conclusão, sob todos os bons pontos de vista, é-lhes desesperadamente incômoda. Porque nossas razões ainda são mutuamente excludentes. Com a exceção de um deles (cuja relação atual parece até razoável, ainda que sem brilho), todos os meus mamãos se deram mal no casamento. Não dá nem pra disfarçar. Logo vemos na cara dos coitados: se foderam no grau máximo que a expressão comporta. Eu vivia lhes dizendo, e o demonstrava com minhas atitudes cotidianas: não confundam uma transa eventual com a constituição de uma família. Não pensem que todo orgasmo tem necessariamente que gerar um filho. Esqueçam o que diz a Igreja. Não se fodam em nome do amor. As relações são passageiras. Tudo se transforma. Não existe amor eterno.

Eu dizia — mas eles faziam questão de não me ouvir...
Deu no que deu.

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